Jonas Xavier e a misantropia [3]

Jonas envelhecia, não era mais um menino. Já com três décadas de vida via seu ódio aumentar, e tudo o ofendia. Estava fraco e doente, não se alimentava direito, apenas lia seus livros obscuros. Sua face cadavérica exibia a faceta da morte que vinha. Jonas não se importava com ela. Sentia prazer quando pensava na morte. Um arrepio tenebroso subia-lhe a espinha. Num certo dia ele resolveu sair, precisava comprar livros e peças para suas invenções. Jonas odiava sair de seu quarto, não gostava quando as pessoas apontavam para ele na rua com aquele olhar de medo, ou de sarcasmo, deboche. Ele sabia que era diferente, mas que mal há em ser diferente? Todos somos diferentes. Dobrou a esquina da Rua 1° de abril e entrou na livraria onde vendiam livros usados. A estantes empoeiradas estavam abarrotadas de livros, ninguém mais lia livros naquela cidade, uma nação de ignorantes. Na última estante, do último corredor ficavam os livros mais interessantes para Jonas, era contos góticos, literatura negra, entre outros estilos literários. Ele escolhia sem pressa um livro e percebia o olhar temeroso das pessoas por entre os vãos das estantes. Isso enchia-lhe de ódio e de vontade de voltar para o seu quarto de lá nunca mais sair. Algumas pessoas saíram da livraria, outras ficaram comentando aos ouvidos umas das outras e rindo. Talvez de sua aparência, Jonas não sabia ao certo qual o motivo. Escolhido o livro, ele percebe que uma jovem está parava ao seu lado, na mesma seção de livros folheando o livro O fantasma de Canterville, de Oscar Wilde. Ele não via nada de errado em uma garota ler Oscar Wilde, mas achou estranho o fato dela não se incomodar com sua presença, nem ficar olhando com expressão nauseante pra ele. Ela era diferente. Pele muito branca, cabelos negros e curto, e olhos claros como o dia. Em sua face não se via alegria, nem medo, nem qualquer outro sentimento. Inexpressivo e frio. Parecia um menino. 

Continua...

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