Jonas Xavier e a misantropia [5]

Jonas entrou em seu quarto com a lembrança daquele olhar perturbando suas idéias, de tal forma que impressionava-se consigo mesmo ao fato de ninguém nunca tê-lo feito pensar tanto em algo que não fizesse parte do seu próprio universo. Abriu um vinho de boa safra envelhecido e sentou em sua poltrona, abriu seu livro e pôs-se a ler.

Alice não odiava as pessoas, mas por algum motivo que ela não tinha absoluta certeza as pessoas a consideravam estranha e se afastavam dela. Talvez fosse porque ela ouvia músicas diferentes que não estavam na moda, ou porque gostava de roupas pretas, ou até mesmo por causa do seu gosto literário, enfim, os motivos poderiam ser muitos mas o fato era que onde ela chegava as pessoas comentavam aos pés de ouvido, e a olhavam como se ela fosse um lobo entre ovelhas. Alice sofrera muito com isso na infância mas já não dava atenção à sua excentricidade. Acostumara com a solidão e seus livros sempre foram boas companhias. Quando chegou em casa a lembrança daquele homem magro e estranho lhe passou pela cabeça e buliu sua curiosidade. Aquele rosto pálido, olhar negro, profundo e frio, e uma aparência bastante doentia. Nunca o tinha visto antes e nem sabia seu nome. A única coisa que sabia era que as pessoas também não gostavam dele, pois viu os olhares mutiladores que faziam em sua direção e as pessoas que saíram da loja simplesmente porque ele estava lá. Mas quem era aquele homem? 

Passada algumas horas, Jonas colocou seu livro na estante junto aos outros tantos que já lera e parou por alguns minutos frente à janela em tom contemplativo. Dali via a casa do outro lado da praça, grande e sombria, de cor cinza e detalhes em madeira. A luz da janela de Alice então se apagou. Jonas virou-se e foi dormir.  

Continua...

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